domingo, 16 de novembro de 2008

Poesias e biografias

TESTAMENTO - ALDA LARA À prostituta mais nova do bairro mais velho e escuro, deixo os meus brincos, lavrados em cristal, límpido e puro … E àquela virgem esquecida rapariga sem ternura, sonhando algures uma lenda, deixo o meu vestido branco, o meu vestido de noiva, todo tecido de renda… Este meu rosário antigo ofereço-o àquele amigo que não acredita em Deus… E os livros, rosários meus das contas de outro sofrer, são para os homens humildes, que nunca souberam ler. Quanto aos meus poemas loucos, esses, que são de dor sincera e desordenada… esses, que são de esperança, desesperada mas firme, deixo-os a ti, meu amor… para que, na paz da hora, em que a minha alma venha beijar de longe os teus olhos, vás por essa noite fora… Com passos feitos de lua, oferecê-los às crianças que encontrares em cada rua… *********************** ALDA LARA - Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque nasceu em Benguela, Angola, em 9 de junho de 1930 - Morreu em Cambambe, Angola, em 30 de janeiro de 1962). Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Muito nova veio foi Lisboa onde concluíu o 7º ano dos liceus. Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira instituiu o Prémio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou já um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais ou revistas, incluindo a Mensagem (CEI). Figura em: Antologia de poesias angolanas,Nova Lisboa, 1958 entre outros trabalhos.(Colaboração do colunista Goiano Horta)

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