TESTAMENTO - ALDA LARA
À prostituta mais nova
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos, lavrados
em cristal, límpido e puro …
E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido branco,
o meu vestido de noiva,
todo tecido de renda…
Este meu rosário antigo
ofereço-o àquele amigo
que não acredita em Deus…
E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os homens humildes,
que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor
sincera e desordenada…
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme,
deixo-os a ti, meu amor…
para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,
vás por essa noite fora…
Com passos feitos de lua,
oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua…
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ALDA LARA - Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque nasceu em Benguela, Angola, em 9 de junho de 1930 - Morreu em Cambambe, Angola, em 30 de janeiro de 1962). Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Muito nova veio foi Lisboa onde concluíu o 7º ano dos liceus. Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das atividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira instituiu o Prémio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou já um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais ou revistas, incluindo a Mensagem (CEI). Figura em: Antologia de poesias angolanas,Nova Lisboa, 1958 entre outros trabalhos.(Colaboração do colunista Goiano Horta)
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