quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Anjos e Diabos

“Tem um anjinho e um diabinho aqui. O diabinho está falando pra fazer. Vai em frente, não pára”. Essa frase, para alguns, demonstra a fragilidade e instabilidade do estado psicológico do autor do crime, Lindemberg. Porém, outros peritos concluem que há na verdade um afloramento de caráter, o que evidencia a frieza e prepotência nas ações do rapaz. A questão explanada diz respeito à ausência ou presença da sanidade mental-intelectual ao sujeito do crime no momento fatídico. Mas não será esse ponto abordado aqui. É óbvio a todos, que sempre quando ocorre um crime doloso e é randomicamente adotado pela televisão que converte o factóide em um mix de novela e BBB, criando heróis, vilões, mocinhas e bandidos, mas que diferentemente da trama cavalheiresca genuína, nem sempre termina com um final feliz. Costumeiramente, à medida que a noticia escorre ao domínio público como um vírus contagioso, vai se tornado uma espécie de “sucesso”, um “hit do momento”, do qual as pessoas tratam de uma peculiar maneira, discutindo como se todo dia fosse o último capítulo. Dentro desse contexto é que entra em cena o assunto de maior relevância, a pena de morte, a qual, boa soma de brasileiros trata de modo despretensioso, e, pedantemente, mas isso é outro tema, o fruto da nossa condição sócio-educacional lastimável. No Brasil, poucos sabem, mas a pena de morte foi abolida parcialmente, atualmente só pode ser aplicada em tempo de guerra. Uma pesquisa CNI/Ibope sobre a pena de morte foi divulgada a 29 de Setembro de 2008, indicando que 54% dos entrevistados manifestaram opinião contrária à pena de morte, a favor da pena responderam 43%.

Apesar de a maioria desaprovar esse tipo de punição, grande parte persiste em defender a pena capital, pois, muitos afirmam estar a favor como uma forma de mostrar seu descontentamento, ou sendo levados pela emoção da situação e até mesmo soltando uma bravata de momento, mas a avassaladora maioria é por pura falta de discernimento. As pessoas favoráveis, ao expressar sua opinião, muitas vezes são tidas com antiéticas; instituições de preservação da vida, como os direitos humanos, parecem ter mais afinidade com as câmeras em Santo Andre do que com o genocídio em Darfur, ou então com a guerra civil no Tibete, mas não adentraremos em tais questões.

Na composição do mundo moderno, repleto de tabus morais e éticos, rígidos quase impenetráveis, os costumes de punir com a morte ficam restritos a países da África, Ásia e Oriente Médio e alguns desvios padrão como os Estados Unidos, lugar onde essa forma de repressão da violência funciona de maneira eficaz. O aço estrutural do pensamento conservador pode ser atribuído a igreja, cumpridora do seu papel, defende a cultura da vida, vendo a predisposição ao bem que há no homem, em contraste com a tendência atual do cultivo da morte. Em revés, paradoxalmente, em meio à banalização da criminalidade, diante de um exercício ineficaz da autoridade e de um poder corrupto por todo país, o senso comum e o juízo de valor das pessoas tendem a lastimar, a se queixar, num clamor em busca de uma mudança radical.

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